Técnicas de produção

Versão de 2017-11-20


Expressão
- Destilação - Extração - Enfloragem - Softact - Moléculas sintéticas - Nature Print - Mesa-redonda

Diversos processos de produção oferecem ao perfumista centenas de ingredientes que podem compor suas fórmulas.
Das primeiras técnicas de destilação à química sintética, cada processo adapta-se a um tipo de matéria-prima em busca de sua essência.

Expressão

Apenas frutas cítricas possuem cascas suficientemente ricas em essências naturais para viabilizar o processo de expressão. Após a casca ser removida do fruto, é perfurada com vários furos pequenos e pressionada mecanicamente.
O líquido resultante é deixando em decantação e, em seguida, filtrado através de papel molhado. Isso separa os componentes aquosos dos óleos essenciais. O processo de prensagem a frio é particularmente adequado para laranjas, limões e outras frutas cítricas, cuja fragrância fresca e volátil não resiste ao tratamento térmico.

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Destilação

A destilação consiste em separar, através da evaporação, os sólidos e os diferentes constituintes voláteis de uma mistura. Uma mistura de água com vegetais aromáticos é aquecida. O vapor da água conduz os elementos aromáticos à coluna de destilação antes de eles serem resfriados e, depois, recolhidos em um vaso florentino ou em um separador de benzol. Através da decantação, a água é separada dos elementos aromáticos, que são então colhidos e denominados "essências".

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Extração

Quando um solvente entra em contato com matéria vegetal, absorve todas as substâncias aromáticas deste material. Tradicionalmente, esse método - denominado enfloragem - envolvia o uso de gordura fria. O resultado dessa operação era uma pasta ou óleo aromático. Hoje, a gordura é substituída por solventes voláteis (etanol, metanol, hexano, tolueno, butano ou gás carbônico), que são aquecidos. Esses solventes são eliminados mediante a evaporação. O que resta é uma substância cerosa denominada concreto. O álcool é adicionado ao concreto, a mistura é aquecida e, em seguida, refrigerada. Durante este processo, a matéria vegetal e as ceras são removidas do concreto. Depois que o álcool é removido pela evaporação, o que resta é o absoluto.

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Enfloragem

A enfloragem a frio, o mais antigo dos processos, está hoje quase totalmente abandonado. Só é utilizado para a extração de flores delicadas como a flor de laranjeira, o jasmim e a tuberosa.
As pétalas, colhidas manualmente, são depositadas em uma fina camada sobre uma película de gordura animal, que repousa sobre uma lâmina de vidro denominada chassi. A cada 24 ou 48 horas (72 horas para a tuberosa), as pétalas são cuidadosamente retiradas. Essa operação é repetida várias vezes, até que haja uma saturação de gordura. Quando a enfloragem termina, a pasta raspada, responsável pelo aroma, é lavada em álcool de vinha para obterem-se as infusões.

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SOFTACT®

Softact® ou extração por CO2:  sob pressão, a uma temperatura abaixo de 40° C, o CO2 passa ao  estado supercrítico, ou seja, o estado líquido. Ele adquire as qualidades de um  solvente, combinadas com a fluidez de um gás. Com o Softact ® podem ser obtidos  extratos de qualidade olfativa e pureza incomparáveis, sem qualquer vestígio de  solvente nem a necessidade de temperaturas elevadas: pode-se dizer que é uma  extração suave.
 O CO2 é utilizado para  extrair com baixa volatilidade o aroma de substâncias aromáticas como as  especiarias e, de maneira mais geral, as matérias-primas secas, recalcitrantes  às técnicas de extração tradicionais. O CO2 utilizado é reciclado  no processo.

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Moléculas sintéticas

Quando uma nova molécula é selecionada — depois de um ou mais anos de pesquisa — as técnicas mais sofisticadas são utilizadas para obter um produto puro, estável e em grande quantidade. A duração e a complexidade do processo de fabricação é variável. Isso faz com que a medida certa seja um objeto de estudo constante. Para obter, por exemplo, o POLYWOOD do geraniol puro, são efetuadas várias operações: clorações, destilações, reações, hidrogenizações e outras tarefas de esterilização. São necessários seis meses para obter a matéria-prima em forma utilizável. A complexidade de cada reação química e o número de etapas sucessivas influem sensivelmente no custo das matérias-primas e no tempo de fabricação. Portanto, toda a cadeia produtiva deve ser otimizada.

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Nature Print®

A natureza é inesgotável fonte de inspiração. Cientistas e perfumistas põem em ação sua criatividade e sua curiosidade para identificar novas fontes: uma flor rara com perfume exótico, uma fruta fresca, uma especiaria do outro lado do mundo.  Seus aromas ativos são freqüentemente efêmeros, inimitáveis. Escolhida a amostra, resta capturar sua fragrância.
Os cientistas utilizam hoje a técnica de análise Nature Print®. Para capturar uma fragrância, diferentes extratos são cuidadosamente selecionados e avaliados por meio da cromatografia gasosa e da espectrografia de massa. Graças à Nature Print®, podemos reconstruir a fineza e a complexidade de uma fragrância e nos aproximar mais da natureza. A Nature Print® representa para a perfumaria o que a fotografia representa para a ilustração.

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Mesa-redonda


Marc Chevrier, perfumista
O senhor tem alguma preferência por produtos naturais ou sintéticos?



Devido à minha origem insular (Vanuatu,Tahiti), sou apaixonado por matérias naturais, e tomo um cuidado especial para recriar com minha memória e meu senso olfativo o aroma da flor tiari, do frangipani, do gengibre branco... Crio perfumes tão bem com essências naturais como com produtos sintéticos. Tenho um respeito enorme pela qualidade das essências naturais. É um amor que vem do produto, da planta, um exercício de estilo que demanda tempo, poesia e emoção. Podemos fazer coisas muito belas com as referências que nos cercam, mantendo-nos fiéis a sua inspiração. Quando, por exemplo, uso o ylang-ylang em minhas fórmulas, imagino o percurso da flor de Madagascar ao meu laboratório, e esta história me faz sonhar…

Jean-Pierre Bethouart, perfumista
Como o senhor cria hoje com as contribuições das novas técnicas de produção?


Os perfumes não são mais criados como antigamente. Em um século, passamos de centenas de matérias-primas a milhares. Graças às novas tecnologias, como a "Softact", os produtos naturais são tratados de maneira diferente; com a técnica "Nature Print" reproduzem-se completamante os eflúvios de uma flor ou de um ambiente: temos matizes infinitos para enriquecer nossa paleta. Na atualidade, são as tecnologias de síntese que aportam mais recursos para o perfumista; em uma fórmula, de 50 a 90% dos ingredientes são de origem sintética. Olhe para sua roupa: quem ainda usa algodão sem lycra?!


Jean Jacques, perfumista
Que avanços tecnológicos o senhor espera como perfumista?



Em nossa atividade, trabalhamos cada vez mais rápido, e isso nos faz aliar a inspiração ao impulso de criar novas notas e nos manter a par das novidades. Na verdade, estamos à procura de um novo produto, de uma nova molécula, que seja muito rara, ou de uma nova qualidade. É como uma nova cor para um pintor! Por exemplo, a contribuição da extração por CO2 é extraordinária. Obtemos as matérias-primas com um impacto muito grande, as notas de cabeça em conformidade ideal com o aroma natural, da canela à flor do campo, à pimenta rosa moída na hora...

O consumidor que não se engane: nos primeiros segundos ele é atraído pela presença do moderníssimo e de altíssima qualidade. Por isso as matérias-primas sintéticas são os nossos ingredientes mais preciosos para criar novas harmonias – uma nova nota é um impulso que nos conduz ao futuro.

Também é comum a composição de fragrâncias reviver temas do passado, como as notas animais ou iridescentes, valores sólidos que se modernizaram e fazem com que nos sintamos ultrapassados.


Françis Thibaudeau, Presidente da Associação Francesa de Perfumistas
Alguma matéria-prima pode desaparecer?


Em Grasse, estamos em locais de cultivo do jasmim, da rosa, da lavanda, e adotamos os três métodos tradicionais de produção: extração com solventes, destilação e enfloragem, sendo que no caso do último somos os únicos que ainda o utilizam.
Hoje, como presidente da Associação Francesa de Perfumistas, ocupo-me em salvaguardar matérias-primas naturais como o geraniol ou o limoneno, porque são ameaçadas por uma legislação rigorosa e consideradas alergênicas, sem levar em conta sua concentração ou sua taxa de risco, que é mínima (1 em 500 milhões). Nesse ritmo, a comissão Brusselloise (SCCNFP*) vai impor uma rotulação sistemática e exaustiva, que atenderá aos interesses  do mercado e do consumidor.

(*) Scientific Comity Cosmetics & Non-Food Products (Comitê Científico de Produtos Cosméticos e Não-alimentícios)