Descobrindo os perfumes mais antigos do mercado

Desde o nascimento do primeiríssimo perfume, a Eau de la Reine de Hongrie em 1370, muitas fragrâncias vieram à luz antes de desaparecerem, mas algumas raras essências souberam atravessar os séculos sem perder nada de sua aura nem de seu sucesso. Agora vamos redescobrir os perfumes mais antigos do mercado, vendidos ainda hoje, que souberam marcar com seu aroma nossa pele e nossos espíritos...

Como a madeleine de Proust, uma fragrância nos faz lembrar as doces recordações da infância: a Eau de Cologne. Uma fragrância fresca e leve cuja história é das mais ricas e que não se contenta em aproximar as gerações: ela atravessou os séculos.

Em 1693, um comerciante chamado Gian Paolo Feminis encontra uma religiosa no Convento de Santa Maria Novella em Florença. Esta lhe confia a fórmula de uma água maravilhosa com propriedades curativas, batizada como Aqua di Regina.

Tratava-se de uma mistura de cascas de frutas cítricas e alecrim maceradas, com virtudes tonificantes e revigorantes.

Ao morrer, este comerciante legou a receita a seu sobrinho Gian Maria Farina, instalado em Colônia. Este se dedica então a negociá-la por toda a Europa, sob o nome de Eau de Cologne. Em 1862 ele revenderá o negócio a Roger & Gallet, que comercializará a fórmula sob o nome de «Extra vieille, Jean-Marie Farina».

A primeira remessa de Eau de Cologne para Paris foi em 1727, mas seu sucesso na França deve-se principalmente aos soldados de Luís XV, que a trouxeram em 1763, depois da Guerra dos Sete Anos.

A Eau de Cologne torna-se então o perfume favorito de reis como Luís XV e Luís XVI, assim como de Napoleão. Aliás, este tinha o hábito de deslizar um frasco dentro de suas botas antes de partir em campanha, usando cerca de 43 litros por mês!

Na época vendida em laboratórios por boticários, a Eau de Cologne é utilizada para fricções no corpo, para abluções, mas é também colocada na sopa!

Mas, o que é esta Eau de Cologne ? Uma fragrância cítrica, (feita de agrumes), alcoolizada a 90%, e contendo somente 4% de concentração perfumada.

Utilizada outrora como produto de higiene corrente, a Eau de Cologne é hoje vendida em perfumarias, e utilizada principalmente para refrescar.

Sem idade e unissex, coloca-se na pele das crianças, molha-se a fronte, impregna-se um lenço para perfumar a bolsa, asperge-se ao despertar para dar tônus... A Eau de Cologne é apreciada pela sensação de bem-estar e de vitalidade que proporciona.

Esta água apesar de desatualizada jamais perdeu sua popularidade e se viu revisitada pelas maiores maisons de perfumaria.

Já em 1853, Guerlain perpetuava a tradição com a Eau Impériale. Em 2001, Thierry Mugler lançava sua Cologne retomando todos os componentes cítricos da receita original. Bulgari seguia seus passos com sua doravante indispensável Eau de Cologne de chá verde. O mesmo acontece com Heidi Slimane e suas 3 águas de Colônia batizadas Eau Noire, Cologne Blanche e Bois d’Argent.

Quando se pensa nos perfumes míticos, pensa-se frequentemente em Chanel nº 5. Quem duvidaria que se trata igualmente de um dos mais antigos perfumes? O sucesso de Chanel nº 5 vem certamente do fato de que seu aroma é instável. Ele é diferente em cada mulher, o que o torna misterioso. Segundo o famoso nez de Chanel, Jacques Polge, o Nº5 é « o equilíbrio entre uma presença e um mistério».

A árdua tarefa de criar o primeiro perfume Chanel nos leva a Ernest Beaux, perfumista titulado dos czares da Rússia. Conta a história que Mr. Beaux apresentou à criadora 24 amostras de perfumes e ela escolheu a de número 5. O nome permaneceu quando ela apresentou sua coleção no dia 5 de maio. Um número que aparentemente lhe traz sorte.

Onde Chanel se diferenciou dos outros perfumistas foi na composição do futuro perfume. Antes do Nº 5 em 1921, os perfumistas se contentavam em fazer fragrâncias com uma só flor, enquanto o de Chanel, possui 80 componentes entre os quais a rosa de maio, a flor ylang ylang, odores sintéticos e de animais. Coco Chanel desejava que fosse « fabricado sob medida como se fabrica um vestido ».

Privilegiando o conteúdo, ela mesma desenhou o frasco bem simples em vidro e o  estampilhou com uma etiqueta negra e branca representativa da marca. O frasco é ainda hoje fabricado à mão e tem um sinete no lacre.

Tal como o Chanel Nº 5, Habanita foi criado em 1921 por Molinard, famoso perfumista de Grasse. A historieta em torno de sua criação diz que ele teria sido criado durante os anos 20 com o objetivo de perfumar os charutos e os cigarros e não as mulheres.

Somente em 1924 o perfume é lançado como eau de toilette e seu frasco é desenhado pelo célebre mestre vidreiro e joalheiro René Lalique. Um frasco negro e delgado embelezado com um friso greco-romano será o receptáculo deste perfume destinado aos homens e às mulheres de personalidade.

O frasco é em seguida redesenhado de maneira mais moderna, um negro mate quadrado, mas retomando o friso mítico de Lalique. Símbolo de erotismo, a fragrância tem um fundo oriental, talcado, ambarado, amadeirado. O vetiver se associa à baunilha e ao patchuli para dar origem a um perfume descrito como «O perfume mais persistente do mundo».

Imaginado pouco tempo após Chanel Nº 5 e Habanita, Shalimar pode igualmente se vangloriar de ser um dos perfumes mais antigos do mercado.

Apresentado ao mundo durante a Exposição Internacional de Artes Decorativas em 1925, ele representa uma das mais prestigiosas maisons de perfumaria, quase bicentenária: Guerlain. Shalimar significa « Morada do amor » em sânscrito, oito letras que são uma ode ao amor imortal.

Em 1921, nascimento da gênese de Shalimar, Paris dança ao ritmo do Charleston e sua população cosmopolita e elitista está fascinada pelo Oriente. Jacques Guerlain (filho de Pierre-François Pascal) começa a pensar em um perfume que reflita esta época louca e livre. Um encontro com um marajá irá alterar a situação.

Ele conta a Jacques uma história romanesca a respeito do amor imortalizado pelo Taj Mahal e os jardins de Shalimar, unindo o imperador Shah Jahan e sua esposa Muntaz Mahal. O imperador teria criado um perfume para oferecê-lo como presente à sua bem amada em meio aos odores exóticos dos jardins de Shalimar.

Esta história será o clique que permitirá à imaginação de Jacques Guerlain dar origem a um dos mais míticos perfumes. Tudo anda muito rápido, Jacques lança em um frasco uma boa dose de um novo produto sintético chamado etilvanilina que reproduz o odor de baunilha de maneira doce e cremosa.

Este perfume que supostamente representa o Oriente, contém no entanto notas frescas de cítricos e de bergamota.

Para o frasco, a inspiração vem da arte mongol dos stupas e a tampa azul safira em forma de leque foi inspirada em uma peça de prata pertencente à família Guerlain. Shalimar permanece como o perfume mítico símbolo do Oriente e do amor.